quarta-feira, 2 de maio de 2012

As calçadas dos bobos.

Recentemente, ganhou bastante destaque na mídia, inclusive nacional, pesquisa realizada que apontava Fortaleza como a cidade com as melhores calçadas do país, entre as pesquisadas. Tal notícia, que nos causou estranheza, tendo em vista a maioria de nossos posts anteriores, e nos fez temer pela situação das calçadas nacionais, nos levou a procurar saber mais a fundo o que estava sendo noticiado, e é sobre o que vimos que iremos falar a seguir.

Av. Bezerra de Menezes.
A pesquisa realizada por um instituto, chamado Mobilize, foi chamada de "Levantamento Calçadas do Brasil", e teve este relatório disponibilizado em seu site. A partir dele podemos observar algumas coisas curiosas. Quanto à equipe do levantamento, não encontramos maiores detalhes, portanto não se sabe o grau de conhecimento técnico da mesma. Quanto à metodologia, a principal assertiva era de que as áreas avaliadas fossem "de urbanização bem antiga, superior a 50 anos", no entanto, todo o restante parece ser bastante subjetivo, como a metodologia de atribuição de notas, as calçadas selecionadas e mesmo a quantidade de locais por cidade, levando uma cidade a ter apenas quatro locais, outra, seis, e uma com 25. Como a nota atribuída às cidades foi uma média aritmética simples, esse ponto gera comparações inusitadas: Fortaleza teve uma média bem superior a São Paulo, mas no ranking geral de calçadas, a melhor cearense está em oitavo, atrás de cinco... paulistanas!

Praça Clóvis Beviláqua - Centro.
No caso específico de Fortaleza, podemos fazer algumas considerações. Quanto à antiguidade da urbanização, foi escolhida a avenida Washington Soares (inferior a 50 anos), em detrimento de alguns dos locais mais antigos e movimentados da cidade, como Messejana e Parangaba. Como a proposta buscava, em tese, "ruas e áreas com alta circulação de pedestres, como estações de transportes, proximidades de hospitais e ruas comerciais", essas áreas, principalmente junto aos terminais, não mereciam ficar de fora. Ou mesmo as do Benfica, com grande fluxo de estudantes. Certamente, os índices de Fortaleza tiveram uma boa turbinada ao se andar por avenidas importantes recentemente beneficiadas pelo Transfor, como a Bezerra de Menezes. A partir daí, é compreensível que o estudo seja apresentado como um "Levantamento" pois deixa de observar diversas nuances próprias do trabalho de pesquisa, mais técnico e menos empírico, e, portanto, mais preciso.

Ainda quanto a Fortaleza, se sabemos que é preciso fazer muito, também deve-se reconhecer que, ainda que não seja no ritmo desejado, a prefeitura vem buscando, dentro das suas limitações, melhorar as condições de acessibilidade, apresentando pela primeira vez preocupação com o tema e incluindo-o em seus projetos. Se não estivéssemos tão atrasados, e os cidadãos tivessem mais consciência da responsabilidade que possuem na conservação e bom uso de suas calçadas, poderíamos estar mais perto de ter as calçadas que o resto do país deve estar pensando que temos. E este blog não teria tanto assunto pra mostrar, talvez.

Beira-mar.
Em relação ao levantamento, acreditamos que apesar do que foi exposto ele tenha dois bons méritos: procurar levantar a discussão em nível nacional e se apresentar como um projeto colaborativo, convidando as pessoas a avaliar a área onde vivem, a partir dessa divulgação. Infelizmente esse segundo ponto não foi sequer citado pela mídia, que repercutiu o levantamento à exaustão de forma um pouco distorcida, mais como um tipo de "cidade contra cidade", estimulando a depreciação dos ambientes pelos seus moradores, ao invés de apresentar a atitude pró-ativa (ainda que com ressalvas) do estudo apresentado.  Se a conscientização é o primeiro passo para a resolução dos problemas, toda iniciativa é válida e bem recebida.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Quando sair de casa é se aventurar.

No dia em que visitamos a praça Clóvis Beviláqua pudemos flagrar esta cena, que ilustra bem o que a falta de acessibilidade causa na vida de alguém com mobilidade reduzida.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Praça Clóvis Beviláqua

A Praça Clóvis Beviláqua está localizada no centro da cidade de Fortaleza e encontra-se, infelizmente, completamente abandonada.

Praça Clóvis Beviláqua.
Também chamada, equivocadamente, de Praça da Bandeira, a Praça Clóvis Beviláqua foi construída em meados do século XIX e após várias gestões de prefeitos recebeu inúmeras mudanças, mas foi na administração de Walter Sá Cavalcante que construíram uma caixa d'água subterrânea, a qual descaracterizou o espaço que existia antes transformando-a na composição de espaço que temos hoje: arborização apenas nas laterais e pouquíssimo uso da área central.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Lagoa do Opaia - O Parque.

A acessibilidade passou muito longe dali, em algumas partes a vegetação está um pouco mais alta que o desejável, mas está ocupada. A Lagoa do Opaia, no bairro Vila União, é um bom exemplo de espaço público ocupado e importante para a comunidade, mas que precisa de (muito) mais atenção e cuidados do poder público.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Avenida Bezerra de Menezes.

Conferimos a Avenida Bezerra de Menezes, uma das maiores e mais largas avenidas de Fortaleza, recentemente reformada e escolhida em votação popular para abrigar um corredor exclusivo de ônibus através do Transfor.


Av. Bezerra de Menezes.

A avenida, além de ter sido recapeada, recebeu padronização das calçadas e canteiro central, além de sinalização e ciclovia.

domingo, 15 de abril de 2012

Acessibilidade no IFCE.

A reforma de alguns ambientes do Instituto Federal do Ceará foi super bem vinda. A mais perceptível delas, pra quem não frequenta diariamente o Instituto, foi o fato da parte externa receber pisos táteis, como vemos nas fotos a seguir.

Entrada do IFCE, e a placa referente à reforma.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Nosso lugar.



No dia de hoje, gostaríamos de fazer algo um pouco diferente. Diferente do que geralmente publicamos, mas semelhante ao que pensamos sempre. Reconhecemos que é difícil falar dessas coisas sem ser piegas. Mas a cidade faz isso com a gente. Definitivamente, não há como acompanhar um pôr do sol à beira mar, uma partida de futebol com os amigos ou, pra quem gosta, a caranguejada da quinta-feira, sem se aperceber, pelo menos uma vez na vida, que apesar de tudo (e olha que esse “tudo” é muita coisa), somos privilegiados.


Que a “loira desposada do Sol” recebe todo mundo, do mundo todo, não é novidade. Mas nós recebemos um pouquinho dela também. E essa simbiose gera esse ser que habita este espaço, o fortalezense. Fortalezense que nasceu aqui, fortalezense que veio do interior, ou mesmo de outros estados e países, e não quis mais ir embora. Fortalezenses que partiram, mas deixaram o coração aqui. Os que acham a cidade feia, confusa, e são doidos pra ir e não voltar.

Fortalezense, por si só, já é um caso a ser estudado. É esse povo que pode ter um mal gosto danado ao estacionar carros e jogar o lixo janela afora, mas que também pode ajudar os outros quando as ruas alagam. Que pode vandalizar monumentos, mas que pode também lutar pela preservação dos bens públicos. Mas principalmente, é aquele que tem presença de espírito para comemorar chuva, vaiar o Sol e sentir falta até do Paranjana.

E desse jeito é a cidade, criadora e criatura de seus habitantes. A mesma que impressiona e escandaliza pelo trânsito e correria é aquela que ainda resiste com cadeiras na calçada à noitinha e mercearias com cadernetas. É tanta dualidade que fica até confuso pensar: essa ambiguidade vem dela ou de nós?

Verdade que o caminho está bem aí, na nossa frente, e não parece curto. Nem fácil. Podemos não ter o povo mais urbano, nossa sociedade também não é a mais organizada, nossas relações com a cidade nem sempre são as mais justas, mas estamos caminhando. Enfrentando os desafios comuns às metrópoles, mas sob o Sol escaldante e à beira do mar verde, só a Cidade Solar.



Texto escrito por Cleber Cordeiro, que é fortalezense de São Paulo - SP e aquarelas de Morganna Batista, que é fortalezense de Milagres-CE.


Hoje, dia 13 de abril, Fortaleza completa 286 anos. E que venham outros 286 e mais outros e outros.