terça-feira, 29 de outubro de 2013

O Parque Dom Pedro II - De onde viemos, pra onde vamos?

Nessa postagem voltamos a falar sobre São Paulo, dessa vez pra contar uma história curiosa, triste, mas com uma ponta de esperança.



Era uma vez uma grande área verde em uma cidade brasileira no começo do século passado. Essa área, de transformação em transformação, se tornou um parque, que era o principal espaço de lazer da cidade. O parque era um ponto de encontro e diversão na cidade, e muita gente passou a infância brincando ali.
O parque, em 1922 (foto do acervo da Casa do Imigrante - SP)

Tudo corria bem, até o surgimento de uma avenida que atravessava esse parque no sentido norte-sul, dividindo a área em duas. Era o início da década de 50, e o progresso pedia passagem, fazer o quê, né? Afinal, foi só um pedacinho do parque, e o benefício fica para sempre.

Como o tal do progresso não parava, dentro de dez anos nada menos que seis (isso, seis mesmo) viadutos se somaram à avenida, cada um ocupando só um pedacinho do parque, todos ao mesmo tempo.

Na década de 70, foi a vez do transporte público (com algum atraso, né?). Então, foi criado o mais movimentado terminal de ônibus da maior cidade da América Latina. Onde foi? Isso, no parque. Mas foi só um pedacinho. Posteriormente, surgiu também uma estação do metrô.

Atualmente, o parque praticamente não existe. Pudera. Durante mais de meio século, tudo que acontecia ali só contribuía para o declínio ambiental e urbanístico do lugar. Alguns espaços foram tomados por ambulantes e outros, especialmente embaixo dos viadutos, abrigam alguns moradores de rua e escondem assaltantes, sendo há anos um conhecido ponto de assalto a veículos. A única passagem para pedestres é carinhosamente conhecida pela população como "faixa de gaza". O rio (ih! faltou dizer que tinha um rio!) foi canalizado e corre esquecido no meio daquela avenida, muita gente nem sabe que é (ou já foi) um rio. As áreas verdes limitam-se a pequenas pracinhas nas beiras das avenidas, todas gradeadas.

Bom, essa é a história do Parque Dom Pedro II, que costumava ficar no centro de São Paulo, se alguém conseguir ver ele nessa imagem atual avisa.
A linha (mal) traçada indica onde havia parque.
Mas onde tá a esperança que foi falada lá no começo? Está justamente na população, que quer ver aquela área menos pior do que está. Está nos profissionais da área, já que a recuperação do espaço é assunto constante em teses, dissertações e projetos urbanísticos nos escritórios e faculdades de arquitetura. Algumas ações como a demolição de viadutos são prometidas faz alguns anos, mas o poder público parece ter dificuldade pra dar uma resposta. 

A ideia dessa postagem é ver que o exemplo de cidades que tiveram que enfrentar determinadas questões antes da nossa deveria servir para nos orientar e mostrar o quanto somos privilegiados por poder tomar decisões baseados em experiências de outros lugares. Nossa opinião aqui é de que não se resolvem problemas do século XXI com respostas do século XX. Poderíamos tirar vantagem de estarmos "atrasados" para pularmos algumas etapas e entrarmos direto na vanguarda. E por incrível que pareça, não é otimismo demais.

DICA 1: quem quiser conhecer melhor a história do Parque Dom Pedro pode conferir aqui, bem explicadinho.

DICA 2: O Tamanduateí é o rio que passa no meio desse parque. Ele já foi o mais importante da cidade, e foi determinante na sua fundação. Hoje em dia, muita gente nem sabe que ele existe. Alguém já ouviu a história de um rio assim?


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