quarta-feira, 24 de julho de 2013

Os viadutos, os carros, as ruas, a cidade.

Quando as árvores que a prefeitura começou a plantar essa semana no Parque do Cocó a titulo de "compensação ambiental" estiverem adultas, possivelmente uma nova solução para o tráfego vai estar sendo discutida, com clichês como "caos no trânsito" e "a cidade está crescendo" pelo meio.


Parece bastante simbólico que, em uma época em que diversas cidades ao redor do mundo e mesmo no brasil discutem o que fazer para se livrar de seus viadutos, monstrengos criados geralmente há cerca de 40 anos, sob a bandeira do progresso, nossa cidade esteja optando por adotá-los. 

Claro que não se pode generalizar, mas esse tipo de construção é, hoje, além de índice de degradação das regiões onde se encontram, muito ineficaz frente a uma política de constante aumento da frota. Em São Paulo, por exemplo, além de suspenderem obras como túneis e intensificarem o ritmo de implantação dos corredores de ônibus, o elevado conhecido como Minhocão é frequentemente contestado, havendo grupos representativos que desejam demoli-lo ou utilizar como parque suspenso. Aliás, é bom lembrar que a região hoje degradada no entorno dele era área nobre antes da construção.

Diversas obras apresentadas como a salvação da mobilidade inclusive recentemente, como a ampliação das pistas da marginal tietê, em São Paulo, representaram um alivio passageiro para o trânsito até se aproximarem novamente da saturação, tudo isso em menos de cinco anos. Curiosamente, nessa mesma via uma solução muito mais barata e efetiva foi a criação de faixa preferencial de ônibus, desde 2010, e que agora deverá se tornar exclusiva. Quem sabe seja um alerta de qual é a direção a seguir.

No Rio de Janeiro, como já falamos no facebook, o viaduto da perimetral deve ser demolido para requalificação da região portuária. E isso só segue a tendência mundial, como San Francisco (EUA) ou Seul (Coreia do Sul), que, entre outras dezenas de cidades, derrubaram quilômetros de viadutos levantados dos anos 50 pra cá em prol de mais espaços de convívio e trânsito de pessoas.

Há quem diga que "é necessário". Que os carros estão aí e que é um absurdo que eles levem um tempão para passar ali em horário de pico (o que só mostra o grau de desorganização histórico da cidade, que construiu uma área "nobre" com pouquíssimos acessos, muitas vezes penetrando em área de interesse ambiental e em lugares em que nem o saneamento básico chegou). Talvez muitos de nós não tenhamos alcançado esse tempo ou não saibam, mas vias do centro como as ruas Liberato Barroso e Guilherme Rocha já foram ruas tomadas por veículos, antes de se tornarem "calçadões" - e isso no tempo em que a Aldeota nem ameaçava o centro como coração financeiro e comercial da cidade. Hoje em dia, alguém acredita que faz falta passar carro nessas ruas? Ou, em outras palavras, alguém defenderia o retrocesso? Esse é só um exemplo de que, diante da impossibilidade de circular, os carros (e seus donos) simplesmente encontram outras soluções para o deslocamento. Afinal, a Beira Mar e adjacências vivem cheias de carros, mas quando são interditadas para um evento tudo acaba bem da mesma forma, não é?

O fato de se considerar o carro o transporte por excelência, relativizando a importância de quem usa ônibus, bicicleta ou caminha (e que, aliás, são maioria) está refletido no projeto da prefeitura, o que o torna ainda menos simpático. Mesmo a alegação de que terá faixas pra ônibus deve ser analisada com cuidado. Afinal, se vai ter, por que já não tem? Afinal, os ônibus já estão lá.

Por outro lado, os motoristas que esperam ansiosos pelo viaduto têm lá sua razão  Não há outra forma de saírem de suas casas e irem ao emprego, ou às compras. Mas isso, novamente, é culpa de uma cidade que não tem infraestrutura nessa "área nobre" nem mesmo para tomar um ônibus, em muitos (muitos!) casos.  Aliada à insegurança, essa situação gerou cidadãos que tiveram o primeiro contato com o transporte público na Copa das Confederações, indo ao Castelão. E vendo que nem é esse bicho de sete cabeças.

Nesse contexto, a iniciativa do grupo Direitos Urbanos em promover um concurso de ideias para a área é muito bem vinda, por gerar a discussão. Afinal, se a cidade é de todos e uma boa porção acredita que soluções melhores são possíveis, por que não debate-las? Mais ainda, se arquitetos e urbanistas, exatamente os profissionais que têm como missão projetar a cidade para todos, majoritariamente discordam da opção da prefeitura, uma luz amarela deveria ser acessa, no mínimo.

cartaz do grupo Direitos Urbanos - Fortaleza (clique para ampliar)
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Um comentário:

  1. Projetos...

    http://www.opovo.com.br/app/opovo/radar/2013/08/12/noticiasjornalradar,3109224/concurso-trouxe-dez-alternativas-a-projeto-de-viadutos-no-coco.shtml

    http://www.opovo.com.br/app/fortaleza/2013/08/12/noticiafortaleza,3109495/projetos-apresentam-alternativas-a-contrucao-do-viaduto-entre-as-aveni.shtml


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